Bloqueio Criativo

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Bloqueio Criativo

Bloqueio criativo, bloqueio do escritor, ou writer’s block, afinal o termo em inglês é bem popular. Não estou aqui para dizer o que exatamente é isto, estou aqui para aproveitar uma chance de reclamar dos tempos contemporâneos, e escolhi o bloqueio criativo como minha vítima. Você pode pesquisar o que é, mas confio na sua intuição. O que veio à sua cabeça quando leu essas duas palavras já nos basta.

Pobre coitado do bloqueio criativo, nem mesmo é um conceito atual. Pessoas choramingam sobre ele há séculos. Mas, claro, em nossos dias tudo ganha uma nova estatura, uma nova dimensão. Tudo vira um novo problema, e todo problema é a ponta do iceberg de um problema maior, que por sua vez é só uma parte do grande quadro sombrio no qual a pobre humanidade é condenada a viver.

Bem, o bloqueio criativo supostamente afeta escritores, e como eu me encaixo na descrição, eu “posso” falar disso. E, se não fosse o caso, eu falaria (ou escreveria) mesmo assim. Escrever é isso (também), é ser capaz de colocar-se em muitos lugares, sem pedir licença.

Mas eu não vou falar sobre bloqueio criativo, pelo menos não diretamente. O conceito em si pouco me interessa. É como um mosquito incômodo voando não tão perto assim de sua cabeça. Ele não importa muito, mas você ainda quer matá-lo.

É claro que é possível falar de bloqueio criativo de forma séria. Claro que podemos pensar em motivos psicológicos e/ou neurológicos para certas áreas do cérebro serem mais ou menos afetadas em determinadas situações.Possível, é. Mas, em geral, além do fato óbvio que todo mundo passa por momentos difíceis uma hora ou outra, ou seja, que ninguém espera que você escreva se tiver acabado de levar um tiro, real ou metafórico, além disso esse tipo de abordagem não é o foco da conversa quando o bloqueio criativo vem à baila. Ela é, na verdade, apenas uma justificativa, ou melhor, uma desculpa, para o fato que alguém, seja por qual for o motivo, não consegue finalizar uma tarefa criativa e/ou intelectual. O “bloqueio do escritor” vira um problema de saúde, como uma gripe ou qualquer outra coisa do tipo, que vitimizou mais um pobre e inocente. Se não fosse por isso, ah, quanta coisa boa ele (ou ela) não teria escrito…

Bem, eu posso dizer quanta coisa ele ou ela não teria escrito: absolutamente nada. O bloqueio do escritor, na maioria dos casos ao menos, não é só uma desculpa, mas é uma desculpa esfarrapada. Há um sem número de explicações para alguém não conseguir escrever. Talvez a pessoa não tenha nada a dizer no momento, talvez ela não seja tão criativa quanto pensa, talvez aquilo que ela escreveu no passado tenha sido mais fruto do acaso do que de uma habilidade nata. Talvez o tema seja árido, talvez ela não tenha nada a acrescentar àquele tema em particular, ou talvez ela tenha escolhido mal o caminho do texto… há infinitos motivos, alguns mais palatáveis, outros menos. Mas o “bloqueio do escritor” é confortável. Ele coloca a culpa num agente externo. Não sou eu… é culpa do bloqueio.

Não, meu caro (ou minha cara). Tome vergonha na cara, admita o que há para admitir. Ou ao menos admita que escrever algo original todo dia ou toda a semana, ou mesmo a cada ano, é de fato difícil. Talvez você tenha um limite. Um levantador de peso tem limites, um corredor tem limites. Um escrevinhador também tem.

O curioso é que, na maioria dos casos em que alguém se queixa de não conseguir concluir um determinado texto (ou mesmo começar), raramente essa pessoa se diz sem ideias… “Ideias eu tenho… só não estou conseguindo colocar no papel”. E quer saber porque não consegues, oh grande lumiar de ideias? Porque colocar no papel dá trabalho. Exige que você pense, que você coloque a prova sua própria ideia. Talvez ela não seja lá grande coisa, já pensou nessa possibilidade? Talvez ela seja, mas precise ser desenvolvida, testada, modificada… e isso exige esforço.

Muito melhor culpar o bloqueio, não?

Escrever é difícil. E a maioria das pessoas que escreve não tem o privilégio de escrever apenas naqueles preciosos momentos quando as palavras e as ideias brotam fáceis, como água de uma fonte recém descoberta.

Nesses momentos áridos você precisa encontrar palavras, precisa encontrar ideias. E isso chega a doer, doer fisicamente. É desolador, desesperador… Não parece só impossível. Parece irreal.

Por que sofrer? É tão mais fácil desistir… e temos aí um culpado tão conveniente… e, todo esse esforço, para quê? Para mais uma dissertação qualquer, mais um texto de blog, mais um artigozinho de jornal? Eles valem todo esse empenho, toda essa dor de arrancar as palavras da cabeça?

Valem, pessoa de pouca fé nas palavras.

Nem todo texto será sua obra prima, nem todo texto será o argumento definitivo sobre um determinado tema. Cada texto escrito é, antes de mais nada, o antecessor de seu próximo. O próximo! Ele existe, está lá, no futuro, te esperando! E quem sabe não será ele o texto?

“O texto”… Tentador, não? Tentadora a ideia de escrever o texto. Ela é a cenoura amarrada na frente do focinho do burro que é cada escritor.

Burros empacam. Faz parte do jogo. Podemos dar um nome ao ato de empacar. Podemos ficar aqui discutindo o que é estar empacado.

Ou podemos tentar dar mais um passo rumo ao objetivo quimérico. Afinal, Burros Quixotescos não empacam. Eles continuam em busca do texto inatingível.

Avante!


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Maurizio Ruzzi

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